Faria Lima se anima com melhoras na economia do Brasil, mas mantém cautela por cenário global

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O Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central semanalmente, tem trazido duas movimentações constantes ao longo das últimas semanas: as previsões dos agentes do mercado financeiro para a inflação em 2022, ouvidos pelo BC para o relatório, aparecem menores a cada semana, enquanto as do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) são revisadas para cima. As razões para os movimentos são claras para analistas do mercado ouvidos pela Jovem Pan: para a inflação, a redução de tributos e um alívio nos preços internacionais de commodities; para o PIB, o efeito carrego de um primeiro trimestre bastante positivo, que pode ser beneficiado também pelos benefícios sociais da �??PEC das Bondades�?�. Na semana entre os dias 25 e 29 de julho, a média das previsões para a inflação de 2022 foi de 7,15%, segundo o Focus (abaixo dos 7,30% da semana anterior). Foi a quinta semana consecutiva em que a previsão foi reduzida. A do PIB passou para 1,97%, após marcar 1,93% na divulgação anterior. A situação deixa os investidores mais animados, mas ainda há cautela devido ao cenário internacional.

A inflação tem dois fatores que causaram o viés de baixa. O primeiro foi o teto de 18% determinado para a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que incide sobre combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transporte público, considerados serviços essenciais. Os combustíveis foram o principal ponto, por terem tido uma subida vertiginosa devido a problemas no fornecimento causados pela guerra da Ucrânia e por terem uma capacidade grande de causar contaminação em outros setores, já que a maior parte dos produtos é transportada por via rodoviária no Brasil. �??Acho que foi uma medida adequada, e temos visto outras similares sendo aplicadas em outros países do mundo. Os preços internacionais estavam artificialmente elevados por causa da guerra e da oferta limitada dos países produtores. Os preços altos prejudicam o crescimento econômico do país�?�, comenta Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho. Por outro lado, Pablo Spyer, economista, sócio da XP e apresentador do Minuto Touro de Ouro na Jovem Pan News avalia ser necessário que o país faça uma reforma fiscal e os governos mantenham o controle de gastos para que a redução seja mais efetiva.

A taxa de juros também afeta a inflação. O BC iniciou um ciclo de altas na taxa Selic, a utilizada pelo governo e que serve para balizar as praticadas no mercado, em março de 2021; desde então, foram 12 aumentos, que levaram os juros de 2% ao ano para o patamar de 13,75% ao ano, conforme determinado na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na última quarta, 3. O Brasil foi um dos primeiros países a iniciar o aperto monetário para conter a inflação após o arrefecimento da pandemia, enquanto Estados Unidos e Europa, que também sofrem com a alta de preços, começaram a subir as taxas apenas em 2022. Agora, a expectativa é de que o Brasil esteja próximo do fim desse ciclo. �??O Banco Central se antecipou e, graças a isso, estamos em vias de terminar os aumentos da Selic, enquanto as economias desenvolvidas têm um longo caminho a percorrer. Estamos em posição favorável para enfrentar possíveis choques inflacionários adicionais, que vão depender da precificação de variáveis como as commodities�?�, avalia Fabricio Henrique Silvestre, economista-chefe do Traders Club �?? Matrix. Outro ponto que pode levar ao arrefecimento da inflação é o cenário externo: como as altas de juros podem causar recessão econômica, a demanda por commodities tende a diminuir, reduzindo os preços dos produtos primários em contratos futuros e amansando pressões inflacionárias.

Já em relação ao PIB, o possível resultado foi beneficiado por um �??efeito carrego�?� do primeiro trimestre, que teve uma recuperação além do esperado depois da melhora das condições sanitárias pós-Covid. A atividade econômica avançou 1% apenas nos três primeiros meses de 2022, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora os trimestres seguintes sejam mais fracos ou até marquem uma ligeira queda, o resultado deve ser acima do previsto no início do ano �?? no Focus, divulgado em 3 de janeiro, a estimativa era de 0,36% de avanço. O crescimento corrobora o que foi dito em diversas ocasiões pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o Brasil �??iria surpreender�?� no PIB. Outro motivo são alguns estímulos aprovados pelo governo no primeiro semestre, como o aumento no Auxílio Brasil em janeiro �?? de R$ 217 para R$ 400 �??, o crédito para pequenas e médias empresas, a liberação de FGTS e a antecipação de 13º salário.

O crescimento ainda pode ser melhorado pelo pacote de benefícios sociais aprovado na �??PEC das Bondades�?�. O texto, que teve aprovação do governo, aumentou o valor do programa assistencial Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600; criou um auxílio para taxistas e caminhoneiros, que irão receber R$ 1.000 por mês a partir de julho; dobrou o valor do vale-gás, e agora famílias em situação de vulnerabilidade receberão o valor médio de um botijão de 13 quilos a cada dois meses; estipulou um repasse aos Estados para que diminuam o ICMS sobre o etanol para 12% e outro para garantir a gratuidade no transporte público a idosos. Todos os benefícios são válidos até o fim de 2022. O impacto total estimado é de R$ 41,25 bilhões, que ficam fora do teto de gastos, regra que determina que o limite para as despesas governamentais é o orçamento do ano anterior mais a inflação do período. �??Há a expectativa de que o aumento do Auxílio Brasil e outros incentivos do governo ajudem a estimular o consumo e a atividade nos próximos meses. A alta dos juros não chegou a ter muito impacto, o que fez muitos analistas elevarem as projeções de crescimento para a economia neste ano. A PEC deve ajudar a atividade, especialmente o aumento do Auxílio Brasil de R$400 para R$600, que favorece o consumo das pessoas de baixa renda e compensa parte da perda de poder aquisitivo pela alta da inflação�?�, comenta Spyer.

O mercado de trabalho também teve uma recuperação forte, embora o desemprego siga em um nível elevado. De acordo com o IBGE, a taxa de pessoas sem emprego caiu 1,8% entre abril e junho e foi para 9,3%, com destaque para o setor de serviços. �??O emprego está surpreendendo para cima também, acompanhando a recuperação mais rápida da economia e a redução da pandemia. Isso é positivo, pois mais emprego gera mais renda e estimula o consumo. O problema é que mais consumo também coloca mais pressão na inflação e nos juros. O Banco Central deve ficar de olho nessa recuperação e, se sentir pressão nos preços, especialmente de serviços, pode manter os juros altos por mais tempo�?�, comenta Spyer. Por outro lado, Rostagno também cita a possibilidade do efeito oposto, com juros altos impedindo um aumento maior nas contratações. �??Olhando para a frente, como temos um combate à inflação em curso, é natural que o aperto monetário gere uma desaceleração e a capacidade de geração de emprego diminua ao longo do tempo, se estabilizando em torno dos patamares atuais, ou com uma elevação marginal no fim de 2022�?�, projeta.

CAUTELA

Se o momento traz boas notícias para a economia brasileira, os investidores ainda mantêm a cautela. A possibilidade de uma recessão global leva a uma precaução, e a queda nos preços das commodities ilustram bem a situação: se por um lado diminui a pressão sobre a inflação no Brasil, por outro pode diminuir as exportações de produtos agropecuários e minerais, prejudicando a balança comercial do país. Embora o clima entre os agentes do mercado tenha melhorado após a indicação do BC de que o fim do ciclo de altas de juros está próximo, os cuidados extras ainda marcam presença. �??O comunicado do BC após a decisão foi interpretado como um sinal de fim do ciclo de alta e as discussões se voltam para o início do ciclo de baixa e o volume esperado de baixas para 2023. Podemos prever a volatilidade além do usual nos mercados, uma vez que temos a eleição à frente e incertezas relevantes sobre o tamanho do aperto monetário nos Estados Unidos e na Zona do Euro�?�, diz Silvestre.  �??Os investidores estão cautelosos porque há muitas incertezas lá fora e aqui. Há o medo de recessão nos Estados Unidos, a guerra na Ucrânia e os problemas geopolíticos entre a China e os americanos. Por aqui, temos a preocupação com o aumento dos gastos públicos, com o teto de gastos e a eleição presidencial, que sempre traz incerteza. Mas, na Bolsa, os investidores estão aproveitando para comprar pechinchas, já que temos grandes empresas líderes de seus mercados e elas são vistas como baratas�?�, concorda Spyer. 

Por outro lado, os dois acreditam que o governo brasileiro está no caminho certo. �??As reformas microeconômicas executadas colocam a economia brasileira no caminho certo para gerar um ambiente de negócios melhor e mais atrativo para o investimento, cuja maturação pode ter consequências estruturais importantes em termos de crescimento econômico potencial, redução do custo Brasil e meta de inflação�?�, cita Silvestre. Spyer, por sua vez, afirma que o governo brasileiro acerta quando diz que vai respeitar o equilíbrio fiscal.

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