Durante quatro anos, a cantora Márcia Short foi vocalista da Banda Mel e eternizou clássicos como Ginga e Expressão, Crença e Fé (Vou Dar a Volta no Mundo), Prefixo de Verão, Baianidade Nagô, entre outras. Ela fazia a linha de frente com Robson Moraes e Alobened até 1993. Os dois saíram e fundaram a Bandabah (em 1994) e só Alobened ficou, onde permanece até hoje no comando dos vocais.
Mas, a saída de Márcia não foi como ela queria: com um acordo para seguir sua vida. Por isso, o caso foi parar na Justiça numa luta que se arrasta há 28 anos. Ela saiu-se vitoriosa e tem o direito de ativar a marca Mel, uma das mais fortes do início da cena axé.
Apesar de muitos fãs pedirem a retomada da banda, Márcia explica que seu objetivo sempre foi receber o que era lhe devido. Mas, parodiando um dos filmes do grande personagem do cinema James Bond – 007: Nunca diga nunca outra vez -, Márcia deixa a porta entreaberta:
�??Para mim, só vale a pena retornar com a marca se houver um investimento, parceria e planejamento. Hoje, meu trabalho me leva para outros horizontes. Então, voltar para Banda Mel, para esse lugar, significa realmente realocar a marca com um projeto que contemple a musicalidade da banda para tempos atuais. Teríamos que ter tempo e investimento para voltar. Não está descartado, mas vamos aguardar�?�, conta.
Em conversa com o Baú do Marrom, ela contou a história desde o seu início, as tentativas de acordo e a luta na justiça durante todos esses anos. Também falou sobre sua carreira atual e seus projetos.
No tempo da Banda Mel nos anos 1990 com Robson Moraes e Alobened (Foto arquivo) |
BA�? DO MARROM – Essa disputa judicial pela marca As Patroas me fez lembrar que você tem uma história semelhante com a Banda Mel. Como anda esse processo?
MÁRCIA SHORT – Primeiramente, é fundamental salientar que o objeto da ação foi uma indenização trabalhista. Eu trabalhei durante quatro anos na empresa e ao pedir desligamento soube por meio dos contratantes que não teria direito a nada. Durante quase dois anos, negociei amigavelmente, tentando fazê-los reconhecer que todo trabalhador que se desliga de uma empresa possui direitos, que precisam ser cumpridos, e isso não aconteceu. A partir daí, uma ação foi movida e a justiça entendeu que, depois de 28 anos (em outubro completa 29) sem acordo e com várias fraudes processuais, a penhora da marca seria a única saída para a quitação desse débito. Eu nunca busquei requerer a marca, o objeto da ação sempre foi a indenização trabalhista.
BA�? DO MARROM – Caso você seja vitoriosa, qual seria seu projeto em relação à marca: formaria uma nova banda?
MÁRCIA SHORT – Nós já somos vitoriosos, pois ganhamos em todas as instâncias. Então, depois de 28 anos em uma ação tramitando na justiça, foi feita a penhora da marca e aí, sim, fizemos o requerimento para que a marca voltasse para nós para que pudéssemos trabalhar e recebermos nossos direitos. Para mim, só vale a pena retornar com a marca se houver um investimento, parceria e planejamento. Hoje, meu trabalho me leva para outros horizontes. Então, voltar para Banda Mel, para esse lugar, significa realmente realocar a marca com um projeto que contemple a musicalidade da banda para tempos atuais. Teríamos que ter tempo e investimento para voltar. Não está descartado, mas vamos aguardar.
BA�? DO MARROM – Quais os melhores momentos que você lembra com a Banda Mel?
MÁRCIA SHORT – Os melhores momentos se converteram em encontros com plateias no Brasil inteiro. Eu vou fazer show em São Paulo, eu me encontro com gente que me acompanha desde a Banda Mel, no Rio de Janeiro da mesma forma. Os profissionais da imprensa que se mantiveram fiéis e estão comigo até hoje fazem parte também dessa história. Estive em Teresina recentemente e fui abordada por várias pessoas que me acompanham desde a Banda Mel. A gente fica abraçada a esses momentos bons. Eu sou muito grata às pessoas que se mantiveram ao meu lado durante todo esse tempo na minha caminhada. Não posso esquecer que a Banda Mel me projetou para o Brasil inteiro e eu sou muito grata por isso.
BA�? DO MAROM – Neste momento, o que você está fazendo, quais seus projetos?
MÁRCIA SHORT – Desde que eu me afastei da Banda Mel e da Bandabah, eu venho trilhando os caminhos da minha carreira solo, que hoje não engloba só o universo do axé music. Gravei dois CDs e tenho vários projetos lançados nesses anos de carreira. Estou prestes a completar 30 anos de carreira solo e sou muito feliz com o que eu faço. Estou produzindo um EP em celebração aos 35 anos de carreira, englobando todos os meus trabalhos e nos próximos meses irei lançar �??Meu Samba Reggae�?�, uma canção linda de Vini Mendes. Estou feliz porque irei lançar uma música nova depois de dois anos afastada por conta da pandemia. Muito contente também com o andamento do processo, porque você vê a justiça sendo feita e isso é um alento para a nossa alma.
BA�? DO MARROM �?? Que análise você faz depois de todo esse tempo de luta?
MÁRCIA SHORT – Assistir, durante 28 anos, às pessoas falarem mentiras ao seu respeito e problematizarem a sua imagem, vendo um mercado que já não precisa de motivo para nos preterir, é muito difícil. Um mercado racista que passou todos esses anos investindo no embranquecimento do gênero que eu ajudei a construir a história. Ver a justiça se fazer agora é mostrar para todos que disseram que não iria dar em nada, que o estado brasileiro protege o trabalhador e que eu e Robson somos trabalhadores como qualquer outro e merecemos respeito. Que esses coronéis, que ainda estão aí, saibam que não estamos na terra de ninguém. Pode durar uma vida inteira, mas uma hora a justiça se faz e a verdade prevalecem.
Que você achou desse assunto?