Nescau a R$ 1,96? Panfleto de 2001 viraliza nas redes sociais

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Um panfleto de supermercado brasileiro de 2001 viralizou nas redes sociais nesta terça-feira (07/06). Na publicação original, a autora do Tweet se assustou com o design do panfleto, que mostra um bebê �??saindo�?� de um repolho. Mas, os preços comercializados na época chamaram mais atenção e o post já conta com mais de 9,7 mil comentários e 175 mil curtidas.

 

Um dos produtos da publicação que ganhou destaque nas redes sociais foi um achocolatado da marca Nescau de 500g, que custava R$ 1,96. Hoje, além de a embalagem ter diminuído para 400g, o valor do produto é bem diferente, podendo ser encontrado nas prateleiras com preços que variam entre R$ 8 e R$10.

Outro tweet também postou um panfleto, desta vez, de 2013, e comparou o poder de compra do brasileiro nos últimos 9 anos. Na imagem, um refrigerante da marca Coca-Cola de 2 litros poderia ser comprado por R$ 2,89. Hoje, o mesmo produto custa em média R$ 8.
 
 
As postagens causaram revolta em quem frequenta o mercado e convive com o aumento dos preços. Além disso, os internautas começaram um debate sobre economia, poder de compra do brasileiro e políticas públicas para controle da inflação e dos preços.

Mas, afinal, o que aconteceu para o preço aumentar tanto?

Em 2001, o valor do salário mínimo era de R$180. Passados 21 anos, o salário atual  é de R$1.212. Apesar do aumento salarial, houve uma queda no poder aquisitivo. Ou seja, a quantidade de produtos que as pessoas conseguem comprar no supermercado diminuiu. Isto é chamado de poder de compra. 
 
De acordo com o economista e professor da PUC Minas, Flavius Marcus Lana, o Brasil realizou reformas que reduziram o poder aquisitivo do  trabalhador. �? o que ocorreu com a reforma trabalhista, por exemplo.
 
“O salário nominal caiu. Entre 2004 e 2015, havia uma política de aumentos reais do salário mínimo, acima da inflação, mas isso não existe mais”, explica.
 
Com o brasileiro podendo comprar menos, o custo da produção aumenta, gerando um efeito cascata.  Isso porque, com a produção em escala, a indústria não precisa repassar as variações no custo de produção. Mas, com a redução das vendas e o aumento de insumos, como energia elétrica e combustíveis, o repasse é feito para o consumidor, para garantir a margem de lucro.
 
�??Todo o problema inflacionário brasileiro foi desencadeado pelo custo de produção�?�, afirma. 
Os preços dos produtos nos supermercados aumentaram ainda mais nos últimos cinco anos, desencadeados por causa do aumento do custo da produção no Brasil. Entre os fatores citados pelo professor estão a privatização de empresas e a crescente concentração de renda. Mais recentemente, a pandemia diminuiu a atividade econômica, agravando a situação. Já a Guerra entre Ucrânia e Rússia levou a um aumento no preço dos combustíveis que, combinado com a diminuição da capacidade de refinamento do Brasil, levou a sucessivos aumentos na bomba dos postos.    
 
�??Se a gente voltasse nove anos no tempo, tinha um mercado consumidor em ascensão, salários reais que cresceram, principalmente nos anos 2000 até 2014, e uma inflação que não sofria pressão pelo lado de custo�?�, completa. 
Além do aumento no valor da mercadoria, a desigualdade social também aumentou. Conforme o professor, a renda brasileira tinha sido desconcentrada entre 2004 a 2014, com o reajuste real do salário mínimo, mas voltou a ser concentrada a partir de 2016. �??Hoje, o mercado consumidor brasileiro está em retração induzida�?�, explica. 

Qual é a solução? 

Para melhorar o poder de compra do brasileiro, é necessário reduzir a inflação e a criação de uma política social de incremento no salário mínimo. 
“O poder de compra está associado à inflação. Ou seja, a redução inflacionária é essencial para aumentar o poder de compra e uma política social de incremento do salário minimo, como ocorreu entre 2004 e 2015, de aumentos reais de salário. �? medida que o poder de compra melhorava, as famílias tinham capacidade de comprar mais. Evidentemente que, a medida que se compra mais, as empresas operam com escalas de produção, ajudam a fazer com que o custo médio de cada uma delas caia e isso induz a não necessidade de se ajustar preços”, explica.

Logo, diante dessa lógica explicada pelo economista, o Nescau não vai voltar a custar R$ 1,96, mas realizando as mudanças necessárias, é possível que o brasileiro possa encher o carrinho na ida ao supermercado.

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