Nascida em Itaquara, no interior da Bahia, em 1959, criada com duas irmãs e um irmão, Angélica Moreira, de 62 anos, veio para Salvador ainda na infância e morou em Pirajá e no Engenho Velho da Federação. Ajoiê de Oxum do Ilê Axé Opô Afonjá por sete anos e dona do restaurante Ajeum da Diáspora, ela morreu nesta segunda-feira (6) depois de ter sido internada em maio para tratar um câncer no endométrio que havia sido diagnosticado um mês antes. A causa da morte ainda não foi divulgada.
No ano passado, Angélica lançou o livro �??Memórias da Cozinha Ancestral�?� para falar da sua cozinha afetiva. �??Ela sempre foi muito ativa, alguém de muita força e vontade de realizar. Uma grande mãe, acolhedora. Uma verdadeira filha de Oxum�?�, destacou uma das filhas da Ajoiê, Safira Moreira.
No final dos anos 80, Angélica trabalhou em galerias de arte, onde desenvolveu seu conhecimento e suas relações com o cenário artístico de Salvador. Casou-se com um ourives na década de 90 e passou a comercializar joias com simbologias de orixás até 2013, quando iniciou o Ajeum da Diáspora, um projeto de etnogastronomia, cozinha de resistência, onde celebrava a cozinha ancestral africana.
�??Minha mãe nunca frequentou nenhuma escola de gastronomia, aprendeu a cozinhar com as mais velhas de sua família, que eram mestres nessa arte. Com seu projeto, Ajeum da Diáspora, realizou e participou de inúmeros eventos em Salvador e outros estados brasileiros, além de ter levado sua culinária ao México, em 2019�?�, afirmou a outra filha de Angélica, Daza Moreira.
Entre oficinas, coquetéis e jantares, Angélica já havia recebido personalidades, como Conceição Evaristo e Angela Davis. Durante a pandemia, ela desenvolveu o projeto Saboreando Histórias, no qual une gastronomia e literatura negra em aulas on-line.
Nas redes sociais, os administradores do Instagram do restaurante de Angélica lamentaram sua morte: �??�? com profundo pesar que comunicamos a partida de nossa mãe para o Orun. As ancestrais a convidaram para compartilhar seus temperos no outro plano e temos certeza que ela viajará em paz. Por aqui, lembraremos dela com sua alegria e vivacidade singulares�?�.
O Ilê Axé Opô Afonjá também lamentou a morte da Ajoiê, ressaltando que Angélica era uma mulher guerreira e militante social em defesa da justiça social. �??Neste momento, prestamos nossa solidariedade aos familiares e amigos da nossa querida Ajoiê Angélica. Nunca estamos preparados para nos despedir de quem amamos. Ficam as boas recordações. Que Oyá a conduza para o Orun e descanse em paz�?�, informa a nota de pesar.
O enterro e velório de Angélica serão realizados na manhã de terça-feira (7), das 8h às 11h, na sala 4 do Cemitério do Campo Santo.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo
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