Custos mais altos e menores preços de vendas são a realidade da próxima safra

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Bahia Farm Show foi aberta oficialmente nesta terça-feira

Diante da perspectiva de um aumento nos custos de produção, impulsionados principalmente pelos preços de fertilizantes, e ganhos menores com as vendas, os produtores rurais do Oeste da Bahia apostam em mais eficiência e na busca por novos aumentos nos índices de produtividade. Um dos principais custos do campo, os fertilizantes, em alguns casos, chegaram a dobrar de preços desde o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. No caso do algodão, o setor projeta um aumento em torno de 45% nos custos totais de produção. 

O presidente Bahia Farm Show e da Associação Baiana de Agricultores e Irrigantes (AIBA), Odacil Ranzi, acredita que a edição atual da feira agrícola será importante para os produtores se prepararem para os desafios da nova safra. Neste edição, a expectativa dos organizadores é da quebra de todos os recordes de público e de faturamento. Segundo ele, a área de exposição cresceu 33% em comparação com a última edição, em 2019, quando o faturamento foi de R$ 1,9 bilhão. �??Não temos um número fechado, mas nós esperamos superar o que fizemos em 2019�?�, projeta. 

�??Nós estamos há dois anos sem a feira, o produtor está capitalizado após duas safras que foram muito boas. Olhando o que aconteceu em outros eventos pelo Brasil, que tiveram recordes batidos, sonhamos em superar R$ 1,9 bilhão, porque a feira cresceu�?�, diz. 

Ele diz que para o próximo ano as preocupações estão em torno do adubo cloreto de potássio. �??Em relação ao potássio, nós estamos tranquilos. Acredito que em outubro todo mundo vai plantar as suas lavouras e conduzir da melhor maneira possível para, quem sabe, em abril colhermos uma supersafra novamente�?�, projeta. 

Um fator positivo destacado pelo presidente da Aiba foi o anúncio de que o governo do estado vai publicar em breve uma nova portaria, ampliando a disponibilidade de água para a irrigação na região. �??Esta mudança é muito importante para nós. �? baseada em um estudo científico, juntamente com a Universidade Federal de Viçosa e a Federal do Rio de Janeiro�?�, conta. �??Nosso aquífero está todo mapeado, vamos poder aproveitar melhor este recurso, sempre com uma grande responsabilidade em relação ao meio ambiente�?�, destacou. 

O produtor rural Luiz Carlos Bergamaschi, presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), ressalta que além de ser importante economicamente, a busca por mais produtividade no campo significa trabalhar de maneira mais sustentável. �??Não temos alternativas a isso. Em nossa equação de produção, existem fatores que não controlamos. O preço de venda e o custo do insumo não dependem de nós. Também não está em nosso controle o clima. O que nós podemos fazer é investir em produtividade porque isso torna os demais problemas menores�?�, acredita. 

A guerra na Ucrânia já está impactando o campo, principalmente no que diz respeito aos preços dos fertilizantes, aponta Bergamaschi. Segundo ele, não há grandes dificuldades para encontrar os produtos, porém os mesmos chegaram a dobrar em alguns casos. Segundo ele, o impacto na safra atual não foi maior porque boa parte dos fertilizantes já havia sido comprada com antecedência. 

�??Agora já estamos vendo gradualmente a redução nos custos de alguns elementos. Nitrogênio já está reduzindo, mesma coisa no caso do potássio e do fósforo. Em algum momento isso vai se equilibrar e o preço deve voltar a um patamar adequado�?�, diz. 

 A safra atual de algodão foi tranquila, avalia o presidente da Abapa. A produção aumentou de uma área de 266 mil hectares, �??baixa em função da pandemia�?�, e ampliou-se para 307 hectares. A estimativa é de 530 mil toneladas de algodão em pluma, com preços menores.

Para o próximo ano, a expectativa é de um impacto grande provocado pela alta dos custos. Em menor escala, a alta dos combustíveis impacta nos custos de colheita e plantio, mas o que deve pesar mais são mesmo os fertilizantes, pondera. �??Se o cenário atual se mantiver, vamos gastar mais para vender por um preço menor. Mas pode ser que isto mude�?�. 

Bergamaschi acredita que o ânimo do produtor baiano após dois anos sem Bahia Farm deve fazer desta edição a maior de todas. Ele lembra a importância dos investimentos em tecnologia e inovação para os produtores do Oeste, principalmente no caso da cultura do algodão. �??Essa é a oportunidade para renovar o parque de máquinas, buscar novas alternativas de produção e melhorar cada vez mais. Além da tecnologia, a inovação em nossos processos é muito importante, assim como o relacionamento que a feira proporciona�?�, diz. �??Nós temos uma região que tem destaque no uso agronômico do solo. Não estamos num local que chova tanto, mas num ambiente com mais adversidade, as pessoas precisam ser melhores�?�, pondera. 

�??O clima mais difícil, o solo que precisa de mais cuidados e outras dificuldades foi o que nos forçou como produtores a melhorar cada vez mais�?�, acredita. 

O produtor rural Júlio Busato, presidente da  Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) falou sobre os resultados das principais safras da região. Ele destacou o desafio em relação aos custos de produção para o próximo ano. �??A safra que nós estamos colhendo foi excelente para a soja e o algodão, nem tanto, porque faltou uma chuva no final do ciclo e isso nos fez perder produtividade. De qualquer forma, o resultado econômico vai ser bom em função dos preços das commodities atualmente�?�, projeta.   

�??Os custos subiram muito, principalmente em função dos fertilizantes, mas eu acho que a dedicação e os esforços dos produtores por mais produtividade vão superar esse problema, que com certeza é temporário�?�, avalia. Ele lembrou que mesmo durante a pandemia, com todas as dificuldades impostas pela crise sanitária, o campo conseguiu bons resultados. �??Somos indústrias a céu aberto, criamos protocolos de segurança e avançamos. Não tivemos que parar. Então essas dificuldades com custos agora, certamente também serão superadas�?�, aposta. 

Mais água
O governador Rui Costa, presente à cerimônia de abertura oficial da Bahia Farm Show nesta quarta-feira (01), destacou ações do estado para promover melhorias na região. Entre os produtores, o anúncio mais festejado foi de que o Inema vai permitir o aumento no uso de água para irrigação, um pedido antigo do setor, que foi alvo de diversos estudos capitaneados pelos produtores. �??Nos próximos dias estaremos publicando uma nova normativa que vai permitir o uso de mais água para produzir�?�, disse o governador. Segundo ele, além de flexibilizar o uso do recurso natural, a nova legislação também vai permitir uma distância menor entre os pivôs de irrigação.

O presidente da Aiba, Odacil Ranzi, explicou que o grande gargalo para um crescimento ainda maior da agricultura baiana no Oeste está na disponibilidade de energia elétrica. Segundo ele, a Neoenergia firmou compromissos com o setor agrícola para resolver os problemas até o ano de 2025. �??A Neoenergia já inaugurou três subestações e vai inaugurar várias outras. �? um mundo muito sofisticado e que envolve uma série de fatores, então devemos lidar com essa demanda reprimida por mais alguns anos�?�, diz. 

Segundo Odacil Ranzi, é difícil quantificar os prejuízos causados pela escassez de energia elétrica. �??Nós acreditamos que seja muito grande o prejuízo porque há muitos projetos, principalmente de irrigação e de indústrias�?�, diz. Segundo ele, há investidores interessados na região que ainda não se instalaram por conta do problema. �??Imagina o tamanho do investimento de uma usina de fios que deixa de vir por falta de garantias no fornecimento elétrico�?�, pondera. 

Em relação à logística de escoamento, ele destacou os avanços com o programa Prodeagro, que prevê parcerias para investimentos entre o poder público estadual e a iniciativa privada. Ontem, o governador Rui Costa anunciou na Bahia Farm uma ordem de serviço para o asfaltamento de 39 quilômetros  para o povoado da Bela Vista, o mais antigo da região e que até hoje está na terra batida. 

Luiz Carlos Bergamaschi, presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), diz que a oferta de energia na região está muito aquém das necessidades da região. �??A oferta é muito baixa, ocorre que temos projetos que não são executados por falta de energia. Poderíamos ter uma produção agrícola maior, mas poderíamos ter uma produção industrial maior também. �? algo que está limitando o nosso desenvolvimento�?�, diz. 

O projeto de conteúdo Bahia Farm Show é uma realização do jornal Correio com o apoio da ABAPA.

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