A vendedora Yurisbel Lopes chegou com 2 filhos ao Brasil pela fronteira da Venezuela, em Roraima. Em 3 malas trouxe o que restou da vida. �??Nessa estão as minhas roupas, nesta, a das crianças, na outra, os sapatos�?�, mostra. Após uma viagem de 12 horas de ônibus, deixou para trás o país natal para reencontrar o marido, que está há 6 meses em Santa Catarina.
O mototaxista Naiber Jesús chegou à fronteira há 5 meses. Cruzou a Venezuela em uma moto com a esposa e três filhos – um deles, recém-nascido, que só foi registrado no Brasil. Abandonou a vida de agricultor e hoje vive de levar e buscar pessoas que atravessam a divisa dos dois países em busca de uma vida melhor. �??Eu queria que meus filhos fossem alguém na vida, por isso me disseram para vir pra cá�?�, conta.
As duas histórias se misturam com as vidas de 717.947 venezuelanos que entraram no Brasil, de março deste ano a janeiro de 2017. As sanções internacionais impostas à Venezuela naquela época agravaram a crise que o país vizinho já vivia, que resultou, até agora, na migração de mais de 6 milhões de venezuelanos.
Interiorização
Quase metade (47%) desses imigrantes decidiram viver no Brasil, segundo dados até março de 2022 da Plataforma de Coordenação Interagencial para Refugiados e Migrantes da Venezuela (R4V, na sigla em inglês), que reúne informações do sistema das Nações Unidas e do governo brasileiro.
O país teve que pensar em uma estratégia para abrigar essas pessoas. Criada em 2018, a Operação Acolhida desenvolveu um sistema para receber, orientar, acolher e interiorizar esses venezuelanos. O governo brasileiro flexibilizou regras para autorizar rapidamente os pedidos de residência e refúgio. Plano para interiorizar essas pessoas foi criado para aliviar as cidades que são a primeira parada desses imigrantes. Muitos aguardam a oportunidade de reencontrar a família ou amigos que vieram antes.
O CPF e cartão do SUS são alguns dos documentos que os venezuelanos conseguem assim que chegam no país. Também são cadastrados para conseguir emprego. O oficial de campo da Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) Arturo de Nieves, afirma que a grande diferença da operação montada no Brasil para imigrantes em relação ao restante do mundo são ações que facilitam a integração para que as pessoas refaçam sua vida e tenham independência�?�.
Segundo a Operação Acolhida, mais de 800 municípios já receberam venezuelanos desde 2018. Paraná (12.678), Santa Catarina (12.195) e Rio Grande do Sul (10.593) foram os principais destinos. �??Nós procuramos conciliar as oportunidades de oferta de emprego do mercado brasileiro à capacitação do venezuelano�?�, afirma o tenente-coronel Magno Lopes, chefe do Centro de Coordenação para Interiorização.
Emprego e nova vida
O agricultor Juan Diaz esperou por 5 meses para ter uma oportunidade de trabalho. Após um processo de seleção, ele e a esposa foram contratados para administrar uma fazenda em Planaltina, interior de Goiás. �??Tem que ter fé e esperança. Agora, vou poder ajudar minha família com um bom salário, com estabilidade de emprego�?�, planeja Juan. No final de março ele chegou ao novo lar, onde pretende ficar até se estabelecer no Brasil.
Hoje, o país tem 184.594 venezuelanos com autorização de residência e 49.045 refugiados, segundo a plataforma R4V. �??A migração traz também para nós uma riqueza de cultura, de costumes e os migrantes, podem contribuir muito com o país, porque eles são qualificados�?�, afirma Niusarete Margarida de Lima, assessora especial para Assuntos de Migrações da Secretaria Nacional de Assistência Social.
Há 1 ano, Deise Aguillera chegou ao Brasil com o marido e o filho, depois de caminhar por dias, cruzando a Venezuela até chegar à fronteira. Deise e o marido conseguiram autorização de residência e uma vaga de emprego em Campinas, no estado de São Paulo. Os dois trabalham em um shopping, como auxiliar de limpeza. �??Eu agora estou em uma casa, onde posso pagar o aluguel, comprar coisas para meu filho�?�, comemora.
Foi por meio do projeto Empoderando Refugiadas, da Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados (ACNUR), Rede Brasil do Pacto Global e ONU Mulheres, que Deise foi escolhida. Outras 12 migrantes também trabalham no mesmo local. �??Elas vêm com uma vontade de trabalhar incrível, com muitas histórias bonitas de perseverança, de luta, de vontade de fazer a diferença�?�, avalia Paulo Filho, gerente do shopping. Da parte de Deise, fica a sensação de que valeu a pena o esforço para uma vida melhor: �??Só temos a agradecer pela forma como nos tratam�?�.
O programa Caminhos da Reportagem, reprisa o episódio �??A vida dos venezuelanos no Brasil�?�, mostra estas e outras histórias sobre as dificuldades dos imigrantes e ação que tem sido feita para facilitar a integração deles no Brasil. O programa será transmitido neste domingo, dia 26 de julho, às 22h, pela TV Brasil.
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