Acidentes no Anel Rodoviário: área de espape é aposta para reduzir riscos

Publicado em

Tempo estimado de leitura: 6 minutos
O motorista que costuma passar diariamente pelo Anel Rodoviário, em Belo Horizonte, já se acostumou a presenciar acidentes quase diários na via. O mais recente foi registrado ontem, em pleno horário de pico, por volta das 17h30, quando o motorista de um caminhão perdeu o freio do veículo ao passar pela temida descida do Bairro Betânia. Em seguida, o caminhão atingiu um micro-ônibus no sentido Vitória. Com o impacto, o ônibus foi arremessado para a pista do lado contrário. Dessa vez, não houve vítimas graves, mas o trecho, que ficou interditado no sentido Espírito Santo,  acostumou-se a ser palco de tragédias com mortes, como a ocorrida dia 10 último, quando duas pessoas perderam a vida após uma batida envolvendo quatro caminhões e cinco carros. Levantamento do Comando de Policiamento Rodoviário feito a pedido do Estado de Minas mostra que foram registrados 290 acidentes no local entre 1º de janeiro e 21 de junho deste ano. O dado aponta para média diária de quase dois registros, praticamente 12 desastres a cada semana. O total é até ligeiramente menor do que o registrado no mesmo período de 2021, quando ocorreram 295, mas a quantidade de mortes subiu 30%, passando de 10 para 13.
 
Isso significa também que cresceu a proporção de óbitos em relação ao total de ocorrências, como um indicativo de aumento na violência das colisões. Se, em 2021, a cada 29,5 acidentes ocorreu uma morte, em média, neste ano, uma pessoa perdeu a vida a cada 22,3 desastres. A tendência de alta se mantém no comparativo com 2020, quando a taxa foi de 23,9 acidentes para cada caso fatal.
ÁREA DE ESCAPE Para tentar diminuir essa realidade, a Prefeitura de Belo Horizonte assumiu uma intervenção naquele que é considerado o trecho mais perigoso da rodovia que corta a capital: a chamada descida do Bairro Betânia, na Região Oeste, onde são frequentes os engavetamentos envolvendo caminhões sem controle e as mortes causadas por eles. Nesse percurso está sendo construída uma área de escape no Km 541, sentido Vitória, que funcionará como um dispositivo de segurança adotado em descidas longas, com o objetivo de proporcionar uma pista lateral onde veículos sem freio ou descontrolados podem desacelerar, evitando desastres. A estrutura em concreto é semelhante a uma piscina, com cerca de 100 metros de comprimento e várias camadas de brita e esperas de cerâmica. (Veja arte.)
 
O professor José Elievam Bessa Júnior, do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da UFMG, explica que, em caso de perda da capacidade de frenagem, o veículo pode tombar, principalmente em curvas. �??Se os freios esquentam muito, o metal presente pode até mudar de estado (passando de sólido a amolecido) e a eficiência do sistema fica comprometida. Assim, se o motorista vem descendo um trecho longo e íngreme, com velocidade alta e apertando os freios o tempo todo, pode acontecer de perder o controle do veículo.�?�
 
Nessas condições, segundo o professor, já não há como o motorista reduzir a velocidade. �??O próprio peso do caminhão na descida vai empurrar o veículo pra frente, a menos que alguma coisa o faça desacelerar.�?� A situação exige perícia e prudência do condutor, além de certo conhecimento das características do local. �??�? recomendável que, na descida de um trecho longo e íngreme, sobretudo se o caminhão estiver pesado, o veículo esteja engrenado com uma marcha mais baixa, fazendo com que o próprio motor tire um pouco da sobrecarga dos freios�?�, explica o especialista.
 
A área de escape ajuda quando a situação sai do controle. �??Ela, geralmente, é uma rampa subida, porque tem uma componente do peso veicular jogando o veículo para trás, o que ajuda a desacelerá-lo. Mas, o que reduz de fato a velocidade é a caixa com material granular montada para que, quando o caminhão entre nessa área, haja um atrito muito grande. Assim, o veículo para muito rapidamente.�?�
 
Segundo ele, o local da área de escape é calculado, geralmente, antes de uma curva. �??Ocorre em um ponto crítico em que o motorista atinge uma velocidade tal que pode haver um tombamento ou escorregamento.�?� O professor explica que há locais em que o sistema já opera com êxito há mais de 10 anos, como na BR-376, na Serra do Mar, no Paraná.
SOMA DE RISCOS José Elievam explica ainda o motivo de tantos acidentes acontecerem no trecho do Anel Rodoviário no Bairro Betânia, em que a área de escape está sendo construída. De acordo com ele, a pressão de tráfego no local é grande, tanto por parte de veículos leves quanto dos pesados.
 
�??O Anel Rodoviário, hoje, deveria ser tratado como a via urbanizada que é, e não como uma via expressa (que indica altas velocidades). Mesmo assim, se as velocidades máximas regulamentadas nas pistas fossem obedecidas, poderia haver redução do número de acidentes�?�, avalia. Ele ressalta que os radares eletrônicos na via são um paliativo, porque medem a velocidade de forma pontual, o que não é freio para a imprudência e o desrespeito à sinalização. �??Há também uma grande quantidade de gargalos no trecho, que causam diminuição de capacidade e, consequentemente, pontos críticos com uma grande quantidade de troca de faixas. Associado a isso, há um relevo com rampas longas e íngremes em alguns pontos, o que pode propiciar a perda de freios por parte dos caminhões (o que não quer dizer que os veículos leves também não possam provocar acidentes, mas por outras razões).�?� A região da rodovia no Bairro Betânia, onde o acidente de ontem foi registrado, une todos esses fatores de risco.
 
Para o professor, as ações para reduzir a gravidade dos acidentes devem continuar, �??como o aumento e a tecnologia da fiscalização, a redução da velocidade regulamentar e a implementação de dispositivos como a área de escape, passarelas etc.�?�.

Promessa de conclusão ainda para este mês

A Prefeitura de BH sustenta, em nota, que a área de escape no Anel Rodoviário deve ficar pronta no fim do mês, embora destaque que a rodovia é área de atuação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). �??A prefeitura tentou nos últimos anos trazer para o município a gestão da área, mas não obteve êxito. Em um esforço de gestão, atualmente a PBH está investindo na construção da área de escape. O projeto contempla a construção de uma travessia subterrânea sob o Anel Rodoviário (drenagem profunda) e também a execução de descida d’água em degraus (drenagem superficial), para direcionamento adequado das águas pluviais, além da estrutura de concreto (com argila expandida), dispositivo de segurança que efetivamente reduz a velocidade dos veículos.�?�
 
As obras começaram em outubro de 2021 e, após interrupção por causa do período chuvoso, cerca de 65% dos serviços estão prontos, de acordo com a prefeitura. Faltam a pavimentação, acabamento em parte das estruturas de concreto, serviços de pintura, iluminação e sinalização, bem como a drenagem. Segundo o município, essa etapa está sendo executada dentro do orçamento inicial previsto, de aproximadamente R$ 3,5 milhões. 

Veja a seguir, os acidentes fatais registrados neste ano: 

» 1°/1 �?? Um motorista de ônibus de 58 anos morreu após ser atropelado por um carro, às 7h15h. O acidente aconteceu no Km 463. O ônibus fretado havia saído de Brasília com destino a Guarapari, no Espírito Santo, e parou em Belo Horizonte para a troca de condutor. O motorista aguardava a chegada de um carro de aplicativo, quando um veículo desgovernado, que estava na pista principal do Anel no sentido Vitória, atravessou o canteiro, passou para a marginal e o atropelou.
» 5/1 �??
A vítima foi o motorista de um micro-ônibus suplementar que morreu após o veículo capotar no Km 464, próximo ao Viaduto São Francisco, na Região Noroeste de Belo Horizonte. O acidente aconteceu por volta das 20h30. Segundo o Corpo de Bombeiros, o veículo trafegava no sentido Vitória quando colidiu com a mureta central e tombou. O motorista foi arremessado para fora do micro-ônibus.
» 23/1 �?? Era madrugada quando um jovem de 19 anos morreu após capotar o carro que conduzia, na altura do Km 534, sentido Vitória, no Bairro Santa Maria. A suspeita é de que ele estivesse em alta velocidade.
» 25/2 �?? Um motociclista de 31 anos perdeu o controle do veículo na altura do Km 458. O condutor caiu e foi atingido por uma carreta. Morreu em seguida.
» 9/3 �?? Uma adolescente que estava na garupa de uma motocicleta morreu em acidente no Km 533, às 6h. O condutor, de 21 anos, foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
» 26/3 �?? Uma mulher de 40 anos foi vítima de atropelamento, às 4h40, no Km 464, na altura do Bairro São Francisco, na região da Pampulha. Segundo a Polícia Militar Rodoviária, após o acidente, o motorista do veículo fugiu do local.
» 1°/4 �?? Uma morte registrada após acidente ocorrido às 21h45 no Km 472.
» 11/4 �?? Uma morte registrada após acidente ocorrido às 18h20 no Km 459.
» 7/5 �?? Uma morte registrada após acidente ocorrido às 13h30 no Km 469. A vítima tinha menos de 24 anos.
» 8/6 �?? Um carro e uma motocicleta bateram no sentido Rio de Janeiro, no Km 537, na altura do Bairro Betânia, na Região Oeste de Belo Horizonte. Em seguida, o piloto e o garupa da moto foram arrastados por um caminhão, que não conseguiu desviar. Segundo a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o motorista do caminhão contou que não viu o acidente, somente ouviu um barulho estranho e parou, quando viu que tinha atingido as vítimas.
» 10/6 �?? Dois homens morreram em um acidente envolvendo uma carreta, um caminhão, um reboque e cinco carros, na altura do Km 538, também próximo ao Bairro Betânia. Douglas Ferreira de Castilho, de 52 anos, conhecido como �??Tuca�?�, era presidente da quadrilha de festa junina Pé Rachado. Ele estava indo montar a estrutura para um evento quando se envolveu no acidente. A segunda vítima era o publicitário Paulo Silva, de 61, proprietário da Domínio Público Comunicação. Um caminhão de cerveja perdeu o freio ao avistar um acidente e atingiu outros veículos.

Que você achou desse assunto?

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

- Publicidade -

ASSUNTOS RELACIONADOS

Feriadão com chuvas exige atenção em dobro nas estradas

Os mineiros que pretendem sair do estado ou viajar por Minas para aproveitar o feriado prolongado de Finados vão encontrar estradas mais cheias a partir de hoje. A movimentação exige atenção redobrada, seja nos trechos historicamente perigosos (confira quadro), seja naqueles aparentemente mais tranquilos. A atenção deve ser redobrada nas retas, nos trechos com buracos

Onde a morte não é o fim da vida

  O Museu de Ciências Morfológicas (MCM) da UFMG é responsável pela extensão entre o estudo de células, embriões, tecidos e anatomia com toda a comunidade da capital. Fundado há 27 anos pela professora Maria das Graças Ribeiro, o museu é focado no ser humano, com a maioria da exposição sendo composta por materiais reais.

Chuva: Sete Lagoas registra alagamentos e pessoas desalojadas

O município de Sete Lagoas, na Região Metropolitana de BH, foi atingido por fortes chuvas no fim da tarde desta terça-feira (31/10). Há registro de moradores desalojados e alagamento em muitas avenidas. Segundo o Corpo de Bombeiros, uma pessoa chegou a ficar ilhada, porém, conseguiu sair do local sozinha.  Cerca de dez casas, localizadas no