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Minas Gerais teve ontem um dia de protagonismo na corrida ao Palácio do Planalto. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, peregrinava pelo estado, com direito a motociata, o seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), recebeu o pré-candidato do PSD ao governo de Minas, Alexandre Kalil, em São Paulo (SP), para oficializar a aliança entre eles. A união é considerada essencial pelos petistas, que têm a vitória no segundo maior colégio eleitoral do país como uma de suas prioridades. O acordo deu ao PT o direito de indicar o vice de Kalil. Paralelamente, Bolsonaro ainda busca firmar um palanque em terras mineiras. Embora o pré-candidato do PL seja o senador Carlos Viana, parte dos bolsonaristas, inclusive nos quadros liberais, defende apoio à reeleição de Romeu Zema (Novo).
Bolsonaro esteve em Ipatinga e Coronel Fabriciano, no Vale do Aço. Depois, seguiu para Belo Horizonte, onde marcou presença em evento empresarial. Viana viajou ao lado dele no avião presidencial e participou das agendas no interior, mas não esteve na atividade em BH. Zema, por sua vez, bateu ponto na agenda. Embora tenha recebido afagos recentes de Jair Bolsonaro, que chegou a classificá-lo como �??exemplo para todos�?� e sido alvo de investida eleitoral capitaneada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o governador tem adotado discurso de apoio à pré-candidatura de Felipe d�??Avila, também filiado ao Novo.
Ao discursar na entrega de 500 unidades habitacionais do Residencial Buritis, em Coronel Fabriciano, Bolsonaro criticou Lula. �??Os nossos valores devem ser preservados a qualquer custo. Não podemos admitir que quem ataque a família, quem defenda o aborto, quem fale em ideologia de gênero ou queira desarmar seu povo, queira ser presidente da República�?�, disse. O conjunto habitacional integra o programa Casa Verde e Amarela (que substituiu o Minha casa, minha vida) e recebeu R$ 37,5 milhões em investimentos federais por meio do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR). São 25 blocos, cada um com 20 apartamentos, divididos entre térreo e quatro andares.
O presidente agradeceu a recepção dos moradores da cidade e falou em risco de socialismo e comunismo no país. “�? uma alegria, onde quer que seja o local do nosso imenso Brasil, cada vez mais vemos as cores verde e amarela predominando. A certeza que cada vez mais nosso país se afasta do socialismo e do comunismo. A certeza de que temos um Brasil onde seu governo acredita em Deus, respeita e defende a família brasileira e que deve lealdade ao seu povo”, disse.
Bolsonaro embarcou na Base Aérea de Brasília e desceu em Santana do Paraíso, cidade onde fica o aeroporto que atende a Ipatinga. De lá, saiu de motociata, passou pela avenida do Parque Ipanema, já em Ipatinga, retornou à rodovia e seguiu para Fabriciano. Ipatinga e Fabriciano são antigos redutos eleitorais do PT. O evento em Fabriciano contou com cerca de duas mil pessoas, entre moradores, apoiadores, empresários e autoridades políticas.
O protocolo de segurança do presidente proibiu o uso de canetas, garrafas d’água e isqueiros, que tiveram que ser descartados. O objetivo era garantir a integridade física do presidente. Em 2018, ele foi alvo de uma facada na barriga quando fazia campanha presidencial em Juiz de Fora, na Zona da Mata de Minas. O perímetro urbano também contou com isolamento de um quilômetro, com fiscalização da Polícia Militar. Com isso, carros não tiveram acesso ao local e quem participou do evento teve que ir a pé.
Antes e depois do lançamento do conjunto em Fabriciano, Bolsonaro interagiu brevemente com apoiadores, mas não falou com a imprensa. Depois, ele seguiu para Belo Horizonte, onde desceu no aeroporto da Pampulha, seguiu para o Hotel de Trânsito do Exército, na Avenida Gonçalves Dias, no Bairro Barro Preto. De lá, foi para o Minascentro participar de evento empresarial. Durante a solenidade, Bolsonaro falou em recriar o Ministério de Indústria e Comércio. �??Ainda no corrente ano, vai estar nas mãos do Lira [Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados], a recriação do Ministério de Indústria e Comércio�?�, anunciou o presidente.
CORRUP�?�?O
Em seu discurso, Bolsonaro falou também de corrupção. Disse que, até o momento, o governo está longe de corrupção, mas que �??pode aparecer�?�. �??Estamos completando três anos e meio de governo e, até o momento, longe da corrupção. Quero deixar bem claro, se aparecer alguma coisa de corrupção �?? e pode aparecer �??, nós ajudaremos a esclarecer os fatos e levar à punição dos possíveis responsáveis�?�, disse. Ele não citou as suspeitas de corrupção envolvendo pastores na liberação de verbas do Ministério da Educação e de compras de vacinas no Ministério da Saúde. Agora, há suspeitas sobre supostas compras superfaturadas de caminhões de lixo por meio de emendas de relator (RP9), o chamado orçamento secreto do Congresso Nacional. Entre 2019 e 2021, o orçamento para a compra de caminhões passou de R$ 24 milhões para R$ 200,2 milhões. A quantidade de veículos também cresceu, saiu de 85 para 510, em 2020, revelando uma alta de 500%. Em 2021, ainda foram adquiridos mais 453 caminhões.
Apesar de as aquisições terem caráter social, não há transparência quanto à forma de compra, não seguem nenhuma política pública de saneamento básico nem com questões relacionadas à coleta de lixo. Se trataria apenas de aceno à base eleitoral e ao lobby com o Congresso Nacional e prefeituras �?? especialmente com políticos do Centrão, que fazem indicações de apadrinhados para abocanhar os preços superfaturados.
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