Diretor de ‘The Square’ incendeia Cannes com sátira sobre super-ricos

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LEONARDO SANCHEZ
CANNES, FRAN�?A (FOLHAPRESS) – As estruturas da velha Europa prometem ser chacoalhadas no Festival de Cannes com a exibição de “R.M.N.”, do romeno Cristian Mungiu, e “Triangle of Sadness”, do sueco Ruben Ostlund. Ambos tocam em temas latentes na porção mais rica da Europa -xenofobia, classe e privilégio- e são exibidos no quinto dia de evento.

“R.M.N.”, um acrônimo para Romênia, acompanha os eventos que se passam numa cidadezinha do país dias após a contratação de imigrantes do Sri Lanka pela fábrica de pães local. O anúncio de vagas decorava casas e o comércio há semanas, mas o salário mínimo não atraiu moradores locais, o que levou a dona da panificadora a trazer gente de fora.

�? o suficiente para uma verdadeira insurreição tomar conta da cidade, com a maioria dos cidadãos inconformados porque “imigrantes estão roubando nossos empregos” ou por causa dos “hábitos de higiene” dos homens que agora manipulam o pão que eles comem diariamente. Um verdadeiro show de horrores xenófobo.

O curioso, no entanto, é que a aversão ao estrangeiro vem justamente de uma cidade que está sem mão de obra por tanto exportar seus jovens a países como Alemanha e Espanha, e que vive em harmonia com uma boa porção de húngaros que há décadas cruzam a fronteira. Eles também insistem em aprender alemão e são terrivelmente cristãos -mas até o padre compra a briga pela “proteção” daquela bolha de pele clara e tradições ultrapassadas.

“Eu também vejo romenos pedindo esmola nas ruas da França”, diz um francês que está de passagem e fica inconformado ao ouvir que os três cingaleses vão levar miséria e violência à cidade, escancarando a hipocrisia do discurso.

�? um filme que capta o mal-estar de uma Europa cada vez menos globalizada e cada vez mais fechada dentro de nacionalismos e agendas populistas próprias, como a guerra na Ucrânia tem mostrado. Mungiu, o diretor, já ganhou a Palma de Ouro, por “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”, e agora tenta repetir o feito tocando num assunto saturado, mas de forma original.

Opressões e disputas ideológicas também devem tornar “Triangle of Sadness” um dos filmes mais comentados desta edição do Festival de Cannes. São raros os aplausos em sessões para a imprensa no festival, mas, por enquanto, o longa de Ostlund foi o mais bem recebido pelos jornalistas.

As gargalhadas ao longo das duas horas e meia de exibição e um burburinho nos dias anteriores denunciavam que “Triangle of Sadness”, ou triângulo da tristeza, se tornaria sensação na riviera francesa.

O filme é exagerado em todos os sentidos, mas não esperava-se menos do vencedor da Palma de Ouro por “The Square: A Arte da Discórdia”, igualmente absurdo. Logo de cara, somos introduzidos a um casal de modelos influenciadores. Discussões sobre feminismo, relações tóxicas e a indústria da moda se seguem, até que o longa passa a ser dividido por capítulos.

O primeiro deles é num restaurante; o segundo, num cruzeiro, e o terceiro se passa numa ilha. “Todos são iguais” é uma frase que se repete entre eles, numa clara e pouco sutil ironia sobre a desigualdade latente do mundo.

Divisões motivadas por classe opõem os personagens em cena e, quando chegamos ao luxuoso cruzeiro, somos apresentados a coadjuvantes extremamente caricatos, ali para mostrar quão obsceno e desconcertante pode ser o acúmulo de riqueza por um ínfimo punhado de magnatas.

O capitão da embarcação, um americano vivido por Woody Harrelson, por outro lado, é um marxista convicto, que se esconde em sua suíte para ouvir o hino da Internacional Comunista e para ter o mínimo de contato possível com seus passageiros.

Numa cena colada a um literal “shitshow” -um show de absurdos escatológico que basicamente serve para fazer graça a partir daquela gente refinada- o capitão discute com um passageiro, russo e capitalista. Ele cita Mark Twain e Lênin, enquanto o segundo, Reagan e Thatcher.

Terceiro e último capítulo de sua trilogia sobre masculinidade tóxica, junto com “The Square” e “Força Maior”, “Triangle of Sadness” tem discussões latentes sobre o feminino e o masculino, embora Ostlund não se restrinja a elas. Classe e privilégio estão no cerne da história, sob um verniz de humor que deve amplificar e levar a trama para um público considerável.

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